Vítimas denunciam golpe envolvendo aluguel e venda de imóveis; líder da quadrilha segue foragida

Uma quadrilha de golpistas fez várias vítimas na cidade de Manaus e os principais integrantes seguem foragidos. O casal Analu Filardis Rodrigues e Marcelo Ferreira Rodrigues são procurados pela polícia Civil do Amazonas pela prática do crime de estelionato. Outros dois integrantes, um advogado e um tabelião de cartório também são apontados pelas vítimas como supostas partes do esquema. O casal vendia as casas das vítimas usando documentos falsificados, com valor abaixo do mercado, sem o consentimento dos proprietários. Os golpes podem ter causado um prejuízo superior a R$ 1 milhão.   

Um homem de 46 anos, professor e empresário, é uma das vítimas de uma ação fraudulenta durante a negociação de compra e venda de um imóvel na cidade de Manaus, em novembro do ano passado, sendo a compra e venda averbada no cartório do 5º ofício de registro de imóveis, mesmo sem ter sido pago o ITBI, que é o imposto de transmissão de bens e imóveis, ato que por lei deve ser feito em compra e venda de imóveis.

O golpe com o professor aconteceu quando ele colocou um imóvel, no bairro Dom Pedro, zona centro-oeste de Manaus, para alugar. Uma mulher, Analu, se apresentava como Ana Paula Chaves, representante de um banco onde vários empresários amazonenses eram sócios. Ela estava interessada em alugar o imóvel, para isso contratou a imobiliária Israel Guimarães. Na verdade, se tratava de Analu Filardis, uma golpista, atualmente procurada pela polícia, com várias acusações, em diferentes segmentos. Analu, se apresentava com a proposta de alugar os imóveis para alocar empresários que viriam de outros estados, todos ligados ao banco do Norte, que funcionava na avenida Joaquim Nabuco.

A golpista fazia toda a negociação com as vítimas apresentando documentos adulterados.

As casas eram alugadas e, nos primeiros meses tudo ocorria conforme o contrato. Então o aluguel começava a atrasar. Os donos dos imóveis procuravam Analu, e a mesma pedia para o advogado do Banco e das empresas que ela representava, que eram o banco do Norte e ASSISCOP, Dr. Félix Valois Neto, responder por ela. O advogado, inclusive, ia fazer pagamentos de aluguéis aos proprietários. Dr. Félix em determinada conversa, chegou a pedir paciência a uma das vítimas que teve seu imóvel vendido, tudo isso para ganhar tempo até a conclusão da averbação no cartório de registro de imóveis.

Segundo foi apurado, a maioria dos imóveis estava sendo ocupado por parentes do dono do frigorífico Frigonorte, localizado no bairro Educandos, empresário José Erivaldo Barbosa, conhecido como “Sarará”, que informava aos proprietários dos imóveis que tinha comprado o imóvel da Analu Filardis. Ela apresentava um contrato particular de compra e venda do imóvel com assinatura falsificada do proprietário, onde até procuração pública feita em cartório por meio de fraude ele tinha com o nome das vítimas, a perícia técnica já constatou que  as assinaturas foram falsificadas e os estelionatários tinham essa facilidade nos cartórios.

“Sarará” havia comprado ilegalmente o imóvel do professor, com uma averbação de compra e venda particular,  cujo registro foi realizado no 5º oficio de registro de imóveis, localizado no centro de Manaus e, por meio de uma procuração pública falsa, lavrada no 2º ofício de Notas, no bairro da cidade nova, zona norte da capital.

“Quando meu advogado procurou o cartório, foi informado pelo tabelião que o funcionário, um escrevente, que havia praticado a fraude, já tinha sido demitido do cartório. Inclusive, o tabelião fez uma nota pública informando que a procuração era falsa.”, relatou a vítima.

O tabelião do cartório, também informou que outros casos semelhantes já tinham acontecido e ele estava desconfiado desse funcionário, um escrevente, que podia fazer parte da quadrilha de Analu e Marcelo.

No livro do cartório, o tabelião fez uma nota pública informando que essa procuração era fraudulenta.

Entretanto, indícios apontam que o dono do cartório poderia estar envolvido no esquema, pois, segundo testemunhas de pessoas que trabalham no cartório, um escrevente não faz nada sem o consentimento do tabelião. Todas as assinaturas passam pela análise do profissional.

Outras pessoas ouvidas no caso, suspeitam que “sarará”, o comprador do imóvel do professor, também tinha conhecimento da fraude, mas optou por adquirir o imóvel por ser uma espécie de “agiota”. Ainda, segundo as testemunhas, ele é conhecido na cidade por esta prática de empréstimo de dinheiro a juros e poderia parte do esquema emprestando dinheiro para Analu. Em contrapartida ela assinava notas promissórias em valores altíssimos e os imóveis serviriam como garantia.

Para este caso foi emitido um mandado de prisão para Analu Filardis Rodrigues e Marcelo Ferreira Rodrigues pela prática do crime de estelionato.

A outra vítima do mesmo golpe é a empresária Ana Paula Chaves, que teve o nome usado em pelo menos três golpes cometidos por Analu. Paula, só ficou sabendo que estava sendo usada nos crimes quando foi intimada na delegacia.

Em janeiro de 2020, Ana Paula e o esposo Fabio Nobre estavam regularizando uma empresa para trabalhar com prestação de serviço. Analu havia sido indicada por algumas pessoas à Ana Paula para fazer a assessoria contábil do negócio. Entretanto, no meio da assessoria, o casal percebeu que Analu não apresentava muita lisura em seus atos e, desconfiados, não deram continuidade na parceria.

Até que passados 11 meses, Ana Paula foi intimada na delegacia por causa da venda de uma casa de uma cliente, que alegava que estava sendo enganada. Pois, havia feito um contrato de aluguel para Ana Paula e ela acabou por vender a casa para terceiros. Nesse momento, Ana Paula percebeu que era vítima do golpe. Analu supostamente havia se apropriado dos documentos de Ana Paula e estava praticando golpes em seu nome.

A golpista alugava, vendia e comprava imóveis usando a documentação de Ana Paula. E segundo as testemunhas, Analu conseguia tudo com muita facilidade. Inclusive todos os documentos utilizados pela golpista foram registrados em cartório, desde assinaturas a procurações. Ao todo foram três imóveis alugados e vendidos com a documentação de Ana Paula.

O casal Ana Paula Chaves e Fábio Nobre estão com vários prejuízos, desde danos patrimoniais, morais e psicológicos, além de restrições nos órgãos SPC e SERASA e lutam na justiça pela reparação dos danos causados por Analu.

Um fato que chama a atenção das vítimas e das autoridades foi a facilidade em que a estelionatária conseguiu as assinaturas nos cartórios. A suspeita é de que ela atua com a ajuda do advogado dela e do funcionário do cartório.

As vítimas, desde que tomaram ciência do golpe, acionaram a justiça e estão em busca de justiça. A polícia civil do Amazonas investiga o caso, e o delegado de polícia Aldeney Goés emitiu um mandado de prisão para o casal pela prática do crime de estelionato.

Outra testemunha que também foi vítima de Analu acusa a farsante de dar o golpe em uma agência de turismo em Manaus.

A vítima que não quis se identificar, disse que Analu também se apresentava como agenciadora de viagens. E dessa forma, aplicou vários golpes com a oferta de pacotes de viagens que não existiam.

Outro empresário, também de Manaus, que atua em vários segmentos também acumula um enorme prejuízo patrimonial por causa de Analu.

A vítima  tinha uma clínica de estética uns cinco anos atrás no bairro Vieiralves. Analu ficou sabendo que o empresário pretendia vender a clínica e propôs uma negociação de compra. Analu disse que estava “trazendo” para Manaus um profissional dermatologista que iria atuar nessa nova clínica. A criminosa já possuía uma clínica no shopping Grande Circular, e pretendia adquiri uma nova para ampliar os negócios.

A farsante comprou a clínica do empresário e pagou a primeira parte com 2/3 do valor acordado, e o restante pagaria no próximo mês, o que nunca aconteceu.

Após seis meses inadimplente, Analu assumiu uma confissão de dívida e tentou um novo acordo propondo um valor menor pela quitação do imóvel. O proprietário  aceitou pra reduzir o valor do prejuízo, mas a farsante desapareceu. A suposta criminosa deixou um prejuízo com contas de luz, internet e em equipamentos. A farsante aplicou este golpe com a ajuda de um sócio chamado Bonik, além do próprio marido, Marcelo Rodrigues, que entrou como o fiador da transação.

Segundo testemunhas Boniek é conhecido na cidade por trabalhar em eventos e não pagar corretamente seus fornecedores.

Para este crime, o casal também está com um pedido de prisão preventiva desde dezembro do ano passado, mas até agora, eles seguem foragidos.

Outra vítima que denunciou o casal, foi Petrolino Costa de Souza, de 65 anos. Ele seria sócio de Analu na implantação de uma clínica médica especialista. O golpe aconteceu quando Analu procurou o empresário para uma sociedade, onde ambos entrariam com o investimento de 500 mil reais. Cada um, disponibilizaria a metade. Analu então alugou um prédio em seu nome e o sócio, Petrolino, arcou com a reforma e, com a compra de alguns equipamentos.

Após 11 meses de negociação, Analu rompeu a sociedade, devolveu o prédio para os locatários e deixou Petrolino no prejuízo.

“Eu fui ao escritório da Analu algumas vezes, ele funcionava na agência do Banco Norte, na Av. Joaquim Nabuco, nunca desconfiei. Depositei um valor, que somado, chega em R$ 214 mil reais, nunca me devolveu nada. ”, relata o empresário.

Outro fato relatado por todas as vítimas diz respeito ao advogado de Analu Filardis. Felix Valois Neto é apontado como participante da quadrilha no esquema fraudulento do casal. Segundo as testemunhas, ele atua usando sua influência, por ser um nome conhecido na cidade, e passar confiança para as vítimas. Além de ‘apagar’ os rastros de sua cliente.

Ainda segundo as testemunhas, Felix Valois Neto supostamente recebe ajuda no judiciário, pois, mesmo com várias provas contra Analu, sempre consegue uma liminar para que os blogs e portais de notícias sejam obrigados a excluir reportagens que mostrem os golpes aplicados pela farsante. O que de alguma forma, contribui para que a golpista continue com a prática dos golpes nesse e em outros segmentos.