“T-Mosqueteiros”: Conheça o time de futsal formado apenas por homens trans em São Paulo

Um time de futsal intitulado “T-Mosqueteiros”, criado em 2019, é formado apenas por homens trans de várias regiões de São Paulo e dos arredores, como Suzano, Barueri, São Bernardo do Campo e Santo André.

Nohan, que vive na favela de Paraisópolis, é um dos atletas mais novos do time e ficou sabendo dele através de um amigo. Desde novembro do ano passado, não perde nenhum jogo. “Acordo bem cedo, pego ônibus, desço em Pinheiros, depois pego mais dois metrôs pra chegar aqui”, diz.

Ele conta que estava sozinho mexendo na internet quando ouviu falar pela primeira vez de homens trans. Na época, tinha 16 anos. “Caraca, eu acho que é isso aí, pensei na época. Me transformei”, conta.

Depois de ler bastante, contou à mãe o que sentia. Ela o encaminhou a um atendimento psicológico. O processo de transição começou na sequência.

Nohan fala da solidão de não conhecer ninguém como ele, e conta ser “socialmente difícil”, pois nem todos compreendiam o processo, e isso tornou as coisas mais difíceis, apesar da ajuda da mãe, que nunca deixou de o apoiar.

O técnico de turismo Cláudio Raphael Galícia Neto, de 49 anos, o mais velho entre os jogadores, é visto com respeito pelo grupo e fala do time com o mesmo sentimento que os colegas.

“Fui muito bem recebido e acolhido. E, apesar do pouco tempo de convivência, já sinto uma energia tão boa que parece que treino com eles há séculos”, conta.

“Homem de útero”

Entre as tatuagens do capitão do time, Matheus Oliveira, de 34 anos, uma que chama atenção de cara é a de um cavalo-marinho no braço. Perguntado sobre, faz questão de explicar que o desenho está ligado a quem ele é. “O cavalo tem útero, ele ajuda na gestação dos filhotes. E nós aqui também. A gente é homem. E tem útero também”, diz.

Para o capitão do T-Mosqueteiros, a escolha da quadra coberta e fechada é pela segurança dos atletas e evitar casos de transfobia. “Espaços abertos podem causar conflito. As pessoas não estão acostumadas ao diferente. Um homem cis, por exemplo, pode não gostar de levar ‘uma entrada’, fazer uma falta e machucar. Por essas e por outras, preferimos o espaço pago”, resume.

A proteção dos atletas não sai de graça. Mensalmente, o time tem de pagar cerca de R$ 750 pelos quatro treinos mensais. Quem não consegue pagar vende rifa de camisetas para bancar o valor que, na divisão entre todos, fica entre R$ 20 e R$ 30. Além desse valor, há necessidade de comprar mais bolas, pois hoje só há duas, além de outros equipamentos esportivos e uniformes.

“A vulnerabilidade social é uma situação que faz com que os meninos não participem, né? Não tenham interesse em jogar futebol. A gente sabe que, para o cara vir treinar, ele vai gastar aí, pelo menos, uns R$ 20, né? Faz as contas no mês, isso dá uma um valor considerável, né?”, comenta o professor e analista de diversidade e inclusão, Bernardo Gonzalez, de 32 anos.

Sindicatos, instituições culturais, prefeituras e federações têm sido procurados para parcerias, mas até agora, o que banca os treinos semanais é o trabalho dos próprios membros. Em novembro, o time foi o vencedor dos Jogos LGBTQIAP+ na categoria futsal trans, torneio promovido pela Prefeitura de São Paulo.

* Com informações do TAB UOL