Prestes a completar 60 anos, rainha dos baixinhos revela: “Sofri vários tipos de abusos”

Xuxa tem uma energia ímpar. Quem já pode ver de perto a Rainha deve ter percebido a luz que emana dela: é de arrepiar. Nesta segunda-feira, Maria das Graças Meneghel completa 60 anos de vida. A menina de Santa Rosa, no interior do Rio Grande do Sul, brilhou como modelo, se tornou uma das maiores apresentadoras da televisão brasileira, marcou uma geração de baixinhos, realizou o sonho de ser mãe, vive um grande história de amor com Junno Andrade e é apaixonada pela natureza e pelos bichinhos. Realizada pessoal e profissionalmente, a apresentadora, no entanto, é realista ao falar sobre o novo ciclo.

“Não dá pra dizer que é a melhor fase, porque passei por fases maravilhosas na minha vida também, em todos os sentidos. Quando era pequena, eu era feliz e sabia que estava feliz. Quando entrei na TV Manchete sabia que era feliz, como modelo… Passei uma fase ótima na televisão, depois quando fui pra Globo, falei: ‘Pronto, melhor fase’. Depois, veio a Sasha, reencontrei o Ju (Junno Andrade) com 50 anos, saí da Globo e fui para Record; tive a oportunidade de fazer um programa que vou guardar no coração, que é o ‘Dancing Brasil’. Depois, saí da Record, estou aprendendo pra caramba com o streaming – Globoplay, Disney +, Amazon -, voltando pro cinema… Posso dizer que estou aproveitando todas as fases. Não estou querendo deixar de aproveitar, não. O que tiver de coisa boa pra vir, eu quero fazer muito”, frisa.

Mais madura, a artista revela se faria algo diferente nessas quase seis décadas de vida. “Claro que faria diferente. Acreditaria menos em algumas pessoas que passaram pela minha vida. Algumas pessoas com nome e sobrenome eu gostaria que não estivessem passado pela minha vida. Falaria menos, acreditaria menos. Mandaria essas pessoas embora da minha vida mais rápido, deixaria de falar com elas mais rápido. Elas não mereceram ficar ao lado da minha energia, nem de mim, de terem sugado minha energia de mim, de terem tirado o que tiraram de mim, ter abusado de mim do jeito que abusaram. Abuso de confiança, de poder. Sofri vários tipos de abusos, com várias pessoas diferentes”, desabafa.

Dona de uma legião de fãs, Xuxa fez um ‘X’ no coração de cada baixinho – e até adultos – e ensinou, com “Lua de Cristal”, que todos devem acreditar em seus sonhos. No programa “Altas Horas”, da TV Globo, exibido no último dia 11, ela recebeu uma linda homenagem de famosos como Silvero Pereira, Jennifer Nascimento, Fabiana Karla, Wanessa Camargo, Lexa, ex-paquitas e mais, que falaram sobre como a artista impactou suas vidas. A loura afirma ter ficado surpresa com as histórias e homenagens que recebeu.

“Me surpreendi e me surpreendo diariamente, porque sabia que eu falava as coisas de coração através das minhas músicas, dos filmes, das minhas mensagens, mas eu não sabia que eu conseguia chegar, a ponto de deixar as pessoas mais livres, sonhadoras, decididas. Não tinha e não tenho essa certeza. É realmente muito gratificante. É uma honra do tamanho do meu mundo”.

Documentário

Entre as comemorações dos 60 anos de Xuxa está o documentário “Rainha”, do Globoplay. A produção, dirigida por Pedro Bial e com estreia prevista para o segundo semestre deste ano, reúne os fatos mais marcantes de vida e carreira da artista.

 

“Sabia que se fosse o Pedro a fazer junto com a equipe dele eu estaria protegida. Não é um documentário feito para que as pessoas falem: ‘vou amar ela daquele jeito’. Ele mostra coisas boas, coisas ruins, coisas que fiz de errado, coisas que acertei, coisas que as pessoas fizeram de errado comigo, coisas que não sabia e deveria ter sabido. Mostra que fui muito ingênua, boba, burra. Não é um documentário só ‘Xuxa, eu te amo’, ‘Você me ama? Também te amo’. É um documentário que mostra que tive muitas falhas e falharam muito comigo. Eu sabia que o Pedro tinha a capacidade de fazer isso e ficar bacana. E está. Tem coisas que não sabia, que ouvi pela primeira vez. Tem caixas que foram abertas, que eu não queria que tivessem sido abertas, mas foi importante e está sendo. Ainda não vi o último episódio, mas imagino que vão fechar com chave de ouro”, acredita.

Com a maturidade atual, Xuxa volta a ressaltar que foi ingênua em muitos momentos da vida. “Fui, não só ingênua. Mas burra. É ingenuidade, misturada com burrice, com falta de maturidade, sensibilidade de outras pessoas, e talvez até da minha, de sentir que as pessoas estavam me enganando. Eu acreditei muito. Não foi fácil, como não é fácil ter que assumir isso pra mim, mas é verdade”.

Um dos pontos altos da obra é o reencontro da apresentadora com a empresária Marlene Mattos após 19 anos. As duas romperam em 2002 por divergências profissionais. Xuxa queria continuar apresentando programas infantis na época e Marlene não concordava. “A Marlene foram 19 anos trabalhando e 19 anos separadas. Eu gostaria de deixar pras pessoas verem o que senti (ao reencontrá-la), porque vai estar na minha cara”.

No documentário, a loura também reencontra Boni, que trabalhou durante 30 anos na TV Globo e ocupou diversos cargos na emissora. “O Boni sempre me tratou com muito carinho e respeito e continua me tratando assim. As falas dele são cirúrgicas. O que ele fala cabe perfeitamente nas coisas, parece que ele me faz ver coisas que eu não via. Eu falava: ‘será que isso aconteceu comigo?’. E ele me dá certeza que as coisas aconteceram na hora certa, que eu era aquilo. Sempre disse que a Globo me mimou muito, me deu muita força, mas ele assume também que tudo foi uma troca muito bacana. Foi muito incrível”.

Navio

Após algumas remarcações devido à pandemia, o navio temático de Xuxa está em alto mar desde a última sexta-feira. Quem está embarcado pode conferir shows da eterna Rainha dos Baixinhos, exposições, festas temáticas, gincanas, teatro, filmes e personagens que marcaram época.

“É claro que é um grande motivo pra gente ficar feliz, porque é o primeiro navio temático no Brasil. Existem navios que as pessoas fazem seus shows, tem totens, mas um navio temático com filmes, fotos, exposições de roupas, de prêmios, cantinhos para as pessoas fotografarem e, o que eu acho mais bacana, esse cuidado com as pessoas que são veganas. Eles vão fazer opções veganas nos sete restaurantes. Fora os convidados que estão indo, todos eles têm uma história comigo”, destaca. “Eles (toda a equipe envolvida na realização do navio) fizeram um trabalho grande, para eu ficar feliz, sabendo que não canto. Não é botar lá um banquinho e sento com meu violão e canto. Fizeram um showzaço, a nave foi içada pra estar lá. A nave de verdade pousou no navio. Acho que a gente vai conseguir coisas únicas em alto mar”, completa.

Entre os convidados de Xuxa para embarcar nessa magia estão Gloria Groove, Daniela Mercury, Claudia Leitte, Junno Andrade, KLB, Sérgio Mallandro, Ana Carolina e Eri Johnson. A artista explica que todos têm uma relação com sua história. “A primeira vez que a Gloria se apresentou foi no Mundo da Imaginação. Daniela a gente tem uma história que ela estourou no Brasil e eu estava na Argentina. Comecei a tocar demais a música dela na Argentina e ela estourou lá. Levei ela pra lá. A Claudinha Leitte, a vontade dela de ser eu abrindo a janela, saindo da nave, se junta com a história dela comigo”, inicia.

“O Ju não preciso nem dizer, dava em cima dele desde meus 26 anos de idade e, aos 49, 50 anos, a gente se reencontra. É meu companheiro, meu marido, meu namorado, meu amante e não tinha como não estar lá. O KLB carinhosamente me chama de irmãzinha. Minha mãe (Alda, que morreu aos 81 anos em 2018) era apaixonada pelos meninos, principalmente, pelo Leandro. Passávamos férias juntos e tal. Sérgio Mallandro, todo mundo já sabe: cresci com ele. Não tinha como não ter stand-up do Sérgio. Eri participou comigo do ‘Mundo da Imaginação’, ‘TV Xuxa’, fez uma série de coisas comigo. Também não teria como não ter o stand-up dele. Ana Carolina, a primeira vez que ela cantou a música ‘Garganta’ foi no ‘Planeta Xuxa’. Então, também tem história pra contar comigo. São pessoas que não tem como não estar no navio”.

“Tarã”

Além do documentário e do navio, Xuxa estrela “Tarã”, uma ficção para o Disney+. Ela esteve no Acre para gravar a série, que trará uma história fantasiosa sobre a lenda de um povo que vive na Floresta Amazônica, e alerta sobre o cuidado com a natureza. Com este trabalho, Xuxa admite ter aprendido muito sobre as questões ambientais e detona o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Na realidade, a gente ouve muita coisa, vejo através dos documentários, mas ver ali os indígenas falando que tinham mais ou menos seis aldeias que iriam ser destruídas porque uma estrada ia passar por ali, porque nosso desgoverno aprovou, é dose você ouvir. Saber que nossa Amazônia está sendo destruída por causa da ganância dos homens, saber dos animais mortos, dos pastos que estão sendo feitos para mais animais serem sacrificados, ver o minério sendo explorado, os indígenas não recebendo cuidado nenhum… Esse desgoverno foi a pior coisa que aconteceu pra natureza. E acho que ‘Tarã’ vem num momento certo. Uma pena que a gente não pode colocar os políticos falando ou estando ali, porque seria muito verdade e nem fantasioso. Mas dá pra entender que a ganância do homem destrói a natureza em grau, número e gênero. Acho que ‘Tarã’ vai fazer as pessoas refletirem um pouco, mesmo sendo ficção, tem muita verdade”.

Na trama, Xuxa trabalha com a amiga de longa data Angélica, de 49 anos. A mãe de Sasha dá vida à Ylla, uma farmacêutica bem-sucedida do Rio de Janeiro e mãe de Gaia (Ywyzar Guajajara), que é escolhida por Tarã, a mãe Terra, para salvar o mundo da ambição humana e trazer uma nova era de consciência. Já a mulher de Luciano Huck interpreta Niara. “A minha vontade era ter trabalhado com a Angélica e a Eliana, nós três juntas. Mas a Eliana pela agenda dela não pode, mesmo a gente diminuindo o papel dela. Então, chamamos outra pessoa pra fazer e guardamos a possibilidade de um dia fazer um trabalho de nós três juntas ainda, porque é a nossa vontade”.

A apresentadora é só elogios para Angélica. “Qualquer coisa que eu tenha que fazer com a Angélica, seja uma foto, jogar um buraco, bater um papo pelo telefone, eu adoro. A gente troca figurinhas do que é bom uma pra outra, uma ajuda a outra, torce pela outra. A Eliana é um pouco afastada dessa nossa conexão, talvez, porque mora em São Paulo. Mas se morasse no Rio talvez estaria mais junto, porque a gente também se gosta um bocado. Agora, estar junto com a Angélica, trabalhar com ela, bater um papo é sempre muito bom”.

“Caravana das Drags”

Xuxa é uma das apresentadoras do reality “Caravana das drags”, do Amazon Prime, que estreia em abril. Ela explica o motivo de ter aceitado esse desafio mesmo após ser alvo de críticas por parte da comunidade LGBTQIA+, no ano passado, quando seu nome foi citado para comandar a versão brasileira do “RuPaul’s Drag Race”.

“Quando o ‘Drage Race’, do RuPaul’s, estava entrando no terceiro episódio eu fui na Globo levar o projeto para o Schroeder, que era o diretor geral, artístico, porque estava querendo fazer. Ele achou que não tinha a minha cara e nem a cara da televisão. Aí, eu guardei essa minha vontade, meu desejo, até chegar a Tatiana Issa e a Amanzon com o projeto de conhecer o Brasil, de levar a arte da drag junto com o Brasil com a ‘Caravana das Drags’. E quando me propuseram isso, eu falei: ‘vocês estão brincando, né? Eu já tinha vontade de fazer isso lá atrás’. E que bom que eu fiz, que deu pra fazer”, celebra.

“Agora, há alguns meses as pessoas que queriam fazer o ‘Drage Race’ no Brasil me perguntaram se eu realmente eu já tinha feito a Amazon, porque eles tinham pensado em mim. Algumas pessoas da comunidade LGBTQIA+ não gostaram da ideia, mas é porque as pessoas estão muito fixas na ideia de ter que ser um homem que se transforma em drag. Só que as pessoas não sabem que qualquer um pode ser drag. Acho que isso que a gente tem que aprender, que eu tampouco sabia. É isso que a gente vai ensinar com a ‘Caravana das Drags'”, avisa.

De volta às telonas 

Em breve, o público poderá ver Xuxa nos cinemas. Ela está no elenco do filme “Uma Fada Veio Me Visitar” — adaptação do livro de mesmo nome da autora Thalita Rebouças. “Aceitei fazer porque é da Thalita, adoro ela, e já quis fazer esse filme lá atrás quando ela me propôs. Eu teria que me vestir como uma fada, com roupas dos anos 60. Eu falei: ‘Ah, não. Tem que ser dos anos 80, com ombreira, bota’. Ela adorou a ideia, mas resolveram fazer com outra pessoa e de outro jeito, porque o diretor quis dessa maneira. Agora, voltando a possibilidade de fazer um remake, ela me chamou e eu estava no meio dessa confusão de fazer ‘Caravana das Drags’, ‘Tarã’… Demorou duas semanas e eu entrei no filme. Então, esses foram os motivos: primeiro porque eu adoro a Thalita, segundo porque eu adoro a história, terceiro porque é muito bom voltar a fazer qualquer coisa pra criança. É muito bom”.

Etarismo

Há quatro décadas o público acompanha Xuxa pela televisão. No entanto, envelhecer diante das câmeras não é tarefa fácil. A apresentadora tem sido alvo de críticas devido a sua aparência. “Acho que as pessoas têm todo o direito de não gostar de me ver sem maquiagem ou com rugas, mas elas têm que guardar pra elas. Agora, escrever, passar adiante, já é uma falta de respeito. Ninguém tem esse direito. Isso vale pra mim ou pra qualquer outra pessoa, que faz ou não procedimentos no rosto, no corpo, que agrada ou não as pessoas”, comenta.

A loura ainda assume que não se sente completamente satisfeita com seu corpo, mas que busca bons profissionais para auxiliá-la com os melhores tratamentos. “Sessenta anos é um número grande. É óbvio que me olho no espelho e não gosto de muita coisa, mas eu me cerco de dermatologistas que gostam de mim, tento fazer coisas que me sinto bem. O fato de eu não fumar, beber, me drogar, comer comida vegana me ajuda bastante. O melhor disso tudo é ter alguém perto de mim, que mesmo eu me olhando no espelho e dizendo que não gosto disso ou aquilo, olha pra mim e fala: ‘para de falar isso, você está uma gostosa'”, afirma a loura, citando Junno Andrade.

“Aqui no nosso país dizer que fulano é velho, é como ser descartável. É ser uma pessoa que não vale ou que não pode fazer muita coisa porque envelheceu. Aprendi que existe uma coisa além da palavra velho. Posso me sentir velha com 26 anos, como já me senti, posso estar velha com 60 anos e me sentir com a cabeça de 26 anos, que também já me senti. Posso estar também com meu corpo de 60 anos e a minha maturidade de 60, que também já me senti. E isso é tão bacana e tão importante que nada que venham falar vai tirar a importância disso tudo”, analisa.

Por fim, a veterana da TV admite que não se dá mais ao trabalho de responder comentários maldosos a seu respeito. “O que eu poderia apenas dizer é que tem muita gente que acha que falando mal de alguém ganha espaço com isso. Tem gente que está no ostracismo, aquele cara que fez sucesso em algum momento da vida e que agora não tem, estou falando isso porque eu conheço algumas pessoas assim: ‘Quer ver, vou falar mal da Xuxa que vão dar espaço’. E as pessoas dão. Então, pra essas pessoas, seja falando mal da minha aparência, idade, atos meus, coisas que eu fiz ou deixei de fazer, a única coisa que faço é o seguinte: ‘cara, a tua vida não me interessa’. Os problemas dessas pessoas, as mágoas não me interessam. Tenho tanta coisa pra fazer, não tenho mais tempo de ficar lendo, rebatendo, nem dizer ‘coitadinha dessa pessoa'”.

Aposentadoria

Com 44 anos de carreira, Xuxa não pretende se aposentar. “Não. Essa palavra não quero mais usar. Penso em diminuir o meu trabalho. Ao invés de fazer muita coisa, fazer as coisas muito bacanas. Agora, aposentar não. Talvez, com 70 anos, você venha me entrevistar dizendo ‘nossa, que bacana esse projeto que você fez’. Vou falar: ‘pois é, saí do meu sítio, da minha fazenda, do meu mundinho, e vim fazer esse projeto muito bacana, porque acho que valeu a pena’. Assim me vejo com 70, 80, até o momento em que eu e as pessoas vamos dizer ‘Chega, né?’. Vou ficar agora mais no meu cantinho, recebendo os louros de tudo o que vivi, curtir mais sendo avó e mais outras coisas. Mas tenha certeza que mesmo sendo avó, no meu cantinho, se tiver uma coisa bacana pra eu fazer, vou fazer”.

Desejo de ser avó

Prestes a completar 60 anos, a mãe de Sasha não esconde o desejo de ser avó. Ela se diverte ao ser questionada se ganhar um netinho seria um presente para o novo ciclo. “Maravilhoso seria eu já (ser avó) com 50 anos, já com 55, com 60. Mas eu vou deixar a Sasha dizer com que idade ela quer que eu seja avó. Eu já queria ser avó desde meus 50 anos. Acho que é um número bacana. Vou deixar a Sasha escolher, mas que eu tenho pressionado ela um pouquinho, eu tenho, porque tenho muita vontade. Ela também tem, mas vai ser no momento certo dos dois. Tanto o João (Figueiredo, marido de Sasha) quanto a Sasha falam muito sobre isso e sabem que quero muito isso”.

Com informações do O Dia