Um homem de 50 anos, morador de Indaiatuba, interior de São Paulo, entrou na fila de transplante de fígado após utilizar o kit covid ( ivermectina, a hidroxicloroquina e a azitromicina), um conjunto de medicamentos sem eficácia comprovada contra o vírus da covid-19. O caso aconteceu no Hospital de Clínicas – do HC da Unicamp, em Campinas.
O paciente chegou na Unicamp, com a pele amarelada e apresentando outros sintomas. Durante a consulta, o paciente relatou que havia tomado o kit covid, além de zinco e vitamina D. Todos prescritos por médicos. O paciente que ainda não tinha doenças anteriores foi diagnosticado com doença hepática pós-covid.
Além deste paceinte, outras quatro pessoas também foram atendidas em São Paulo e levadas à fila de transplante de fígado.
“Ele chegou com uma síndrome de doença hepática pós-covid. Mas quando analisamos, vimos que não se enquadrava muito bem na síndrome. Tinha alterações específicas e analisamos a biópsia. Era, na verdade, uma hepatite medicamentosa que causou a destruição dos dutos biliares. E o paciente tinha usado somente, nos últimos quatro meses, remédios do kit covid. Ele também tinha sido infectado pelo coronavírus há 3 meses”, disse a professora e médica da unidade de transplante hepático do HC da Unicamp, Ilka Bonin.
A médica afirmou ainda que os quadros de covid e de hepatite medicamentosa são diferentes. “Na história clínica, ele só tinha tomado remédios de kit covid”. Ainda segundo ela, a equipe também tem observado um aumento de pacientes que tem feito um uso indiscriminado das medicações do tratamento precoce contra o coronavírus.
“Essas medicações estão sendo usadas erroneamente, sem acompanhamento médico. Não temos nenhum estudo que valide a medicação para covid. E esse uso indiscriminado tem um impacto. Estamos perdendo 80% dos pacientes internados na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), quando o usual é de 20 a 50%, dependendo da faixa etária. Será que nossa mortalidade não está associada ao uso de remédios que têm sua hora de serem usados? Essa é a pergunta que temos feito”, disse.
O KIT COVID
O kit covid é defendido por alguns médicos e pelo governo federal como um “tratamento precoce” ao coronavírus. Atualmente, a doença não tem remédio com eficácia garantida e o único tratamento é lidar com os sintomas, entre eles tosse, febre e falta de ar. Em casos graves, os pacientes necessitam de intubação para conseguir respirar.
Sobre o uso do kit covid, os médicos têm liberdade para prescrever os medicamentos. A hidroxicloroquina é um remédio usado, normalmente, em pacientes com lúpus, artrite reumatoide, doenças fotossensíveis e malária. Já a ivermectina é um vermífugo. Já azitromicina é um antibiótico, recomendado para casos de infecção bacteriana. A covid-19 é um vírus.