Níveis dos rios na Amazônia não devem se recuperar totalmente em 2025

Após um ano marcado como possivelmente o mais quente da história e por duas secas recordes na Amazônia, a região deve continuar enfrentando extremos climáticos em 2025. A previsão para o primeiro trimestre indica chuvas dentro da média em grande parte do bioma, mas insuficientes para normalizar os níveis dos rios.

Esse cenário agrava problemas logísticos, aumenta o risco de queimadas, ameaça a biodiversidade e prejudica a qualidade de vida das populações locais. Em novembro, o Brasil sediará no Pará a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, destacando a relevância do tema.

De acordo com o Censipam, as temperaturas devem permanecer próximas da média histórica nos estados da Amazônia Legal, exceto no sudeste do Mato Grosso, onde o calor deve superar os padrões. Chuvas mais intensas são esperadas no Amapá, norte do Pará e Maranhão, enquanto nas demais áreas do bioma as precipitações devem ficar dentro do esperado. Contudo, os rios dificilmente alcançarão níveis normais devido à seca prolongada.

Clima global em alerta

O serviço Copernicus projeta que 2024 será o ano mais quente já registrado, superando 2023, que bateu recordes de temperatura. O climatologista Carlos Nobre alerta que, caso 2025 e 2026 mantenham essa tendência, a ciência poderá concluir que o mundo atingiu o limite de 1,5°C de aquecimento, definido no Acordo de Paris como crucial para evitar efeitos catastróficos das mudanças climáticas.

Apesar dos compromissos firmados em 2015, a dependência de combustíveis fósseis e crises globais, como as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, têm desviado o foco do combate às mudanças climáticas, aponta Nobre. “2024 pode ser o ano de maior emissão de gases de efeito estufa da história”, destaca.

Imprevisibilidade climática

O físico atmosférico Paulo Artaxo, da USP, reforça que a imprevisibilidade é uma nova característica da crise climática. “Alteramos o clima a tal ponto que até previsões de curto e médio prazo estão comprometidas. Fenômenos como La Niña, que historicamente sucedem o El Niño, não estão ocorrendo como esperado”, observa.

Embora o NOAA estime 72% de probabilidade de La Niña entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, as chances diminuem com o tempo, sugerindo condições neutras de março a maio. A ausência desse fenômeno, que tradicionalmente aumenta as chuvas na Amazônia, intensifica os desafios climáticos.

“Precisamos nos preparar para enfrentar esses eventos extremos, como grandes inundações ou secas severas. Não podemos ser pegos de surpresa”, conclui Artaxo, reforçando a urgência de políticas de adaptação e resiliência diante das mudanças climáticas.