Mulher trans é impedida de disputar presidência do PT; sigla é acusada de racismo e transfobia

O Partido dos Trabalhadores (PT) impediu a candidatura de Dani Nunes à presidência nacional da sigla. Negra, transexual e moradora da zona oeste do Rio de Janeiro, a turismóloga acusa o partido de praticar “violência política de gênero e de raça”.

A decisão foi tomada na quarta-feira, 21. O regulamento interno exige cinco assinaturas de membros do Diretório Nacional para validar uma candidatura. Dani apresentou o número mínimo, mas uma das assinaturas foi retirada após o registro. A comissão organizadora considerou a retirada válida e anulou a inscrição.

Dani recorreu, alegando que o regulamento não prevê remoção de apoios após o prazo oficial. Segundo ela, a anulação fere o princípio da boa-fé e desrespeita as bases sociais que o partido afirma representar.

“Fui surpreendida depois de vibrar de alegria. Meu chão ruiu”, declarou. “Não esperava que a atitude individual de uma pessoa pudesse comprometer toda uma história de luta minha e do partido que carrega o nome da classe trabalhadora.”

Dani comparou sua exclusão ao caso da ministra do TSE Vera Lúcia, barrada em um evento do Planalto mesmo sendo palestrante. Servidores questionaram sua condição de magistrada, e o caso foi classificado como racismo pela ministra Cármen Lúcia, do STF.

“Me vi igual a ela no plenário, triste e com o olhar longe”, disse Dani. “Tive a sorte de contar com o apoio de negros, indígenas, LGBTQIAs e antirracistas.”

A corrente interna Raízes do PT, da qual Dani faz parte, divulgou nota chamando a decisão de “arbitrária e injusta” e reforçou a acusação de violência política. O grupo também criticou a manutenção de “quatro homens brancos na disputa”.

Em nota, o PT afirmou que Dani “não cumpriu as regras estabelecidas no regulamento do Processo de Eleição Direta (PED) 2025 quanto aos apoios”.

A eleição está marcada para 6 de julho, com quatro candidaturas confirmadas: Edinho Silva, Valter Pomar, Romênio Pereira e Rui Falcão.