Brasil – Um jovem de apenas 22 anos está entre os mais de 1,5 mil pacientes que morreram de Covid-19 em Sorocaba (SP). João Vitor Guido da Silva morreu no sábado (17), em um hospital particular da cidade.
A mãe dele, Rogeria Guido da Silva, diz que o filho sempre foi uma pessoa carinhosa, humilde e boa.
“Ele era um menino que cativava todo mundo. Por onde ele passava, cativava a todos pela simplicidade, pela humildade. Era um menino puro de coração, não tinha maldade”, conta.
Rogeria conta que o jovem fazia caminhada com ela durante todas as manhãs, e descobriu a doença quando, em uma das caminhadas, o rapaz não conseguiu completar o circuito. Após ver que o filho estava com febre, Rogeria optou por levá-lo até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Éden durante a madrugada.
A mãe relata que ele foi liberado sem que realizassem nenhum exame. “Só deu um remédio para tomar em casa, um antialérgico”, comenta.
Próximo ao fim da semana, Rogeria conta que o filho amanheceu com a unha da mão roxa. A mãe decidiu pagar por uma consulta em um hospital particular da cidade, onde foi feita uma tomografia e constatado que 25% do pulmão de João estavam comprometidos. O teste de Covid-19 foi feito e o resultado foi positivo.
Família infectada
A mãe conta que o primeiro infectado da família foi seu marido e, em seguida, João, que teve a situação agravada de forma muito rápida. Ela acredita que o jovem tenha pegado do pai, mesmo com todos os cuidados tomados.
“O quarto do João é separado. Ele só descia em casa para comer, porque estávamos preservando ele, por ele ser obeso e tudo mais.”
O jovem testou positivo e, inicialmente, se cuidaria em casa. No entanto, o estado de saúde dele piorou nos dias que se passaram e a família optou por levá-lo até a UPA do Éden novamente, mas desistiu ao ver a fila de pessoas aguardando por atendimento.
O paciente então retornou ao hospital particular onde havia feito a tomografia. “A saturação dele estava em 70%, o colocaram no oxigênio no pronto-socorro”, conta a mãe.
Na mesma noite, Rogeria foi informada de que o caso do filho era grave, com mais de 50% do pulmão comprometidos, e que ele precisava de uma UTI, mas o hospital estava lotado. “Não imaginava que ia ser tão grave assim. Achava que ele ia ficar tomando remédios e depois iria embora”, lembra.
Foi então que a mãe começou a separar os documentos para colocar o filho na fila da Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross).
Enquanto a vaga não chegava, ela tentava acalmar e confortar o jovem em conversa pelo celular. “Ele pedia para ir embora, para tirar ele dali”, conta a mãe.
Enquanto tentava confortar o jovem, o quadro clínico dele continuou piorando até que a equipe médica optou por intubar o jovem ainda na emergência.
Dias depois, ele conseguiu uma vaga de UTI e começou a apresentar melhoras. A mãe conta que o filho chegou a ser extubado, mas piorou e foi intubado novamente, ficando assim por uma semana.
A mãe conta que o médico ligou para a família informando que o jovem seria extubado de novo e que eles “deveriam rezar” para que João se estabilizasse. No dia seguinte, Rogeria conseguiu visitar o filho. “Ele me olhou e disse que me amava muito. Eu disse que também o amava e que estava com saudade dele”.
João foi levado para uma UTI não Covid, pois já não transmitia mais o vírus, mas ainda possuía um quadro delicado. Segundo a mãe, uma grande ferida havia se formado em suas costas e uma infecção se desenvolveu.
Na sexta-feira (16), o jovem ficou em ventilação mecânica. A mãe o visitou novamente, conversou com ele e o abraçou.
Na madrugada de sábado (17), Rogeria recebeu uma ligação pedindo para que a família fosse até o hospital, pois o filho havia tido uma piora.
“Não tive coragem de subir. Subiram minha irmã e meu marido e, quando eles voltaram, olhei para a cara do meu marido e já sabia”, conta Rogeria.
João teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu. Segundo a mãe, a comoção no hospital foi tão grande que vários médicos e enfermeiras também choraram.
O jovem ficou 20 dias internado no hospital. Para pagar as contas, a família vendeu a casa pela metade do preço. “Eu agradeço a Deus por ele ter vivido 22 anos comigo, aprendi muito com ele. Foi um privilégio ser mãe de uma pessoa tão especial.”