
Com uma atuação impecável, Júlio César Agripino, de 33 anos, conquistou a medalha de ouro nos 5.000 metros da categoria T11 (deficiência visual) nos Jogos Paralímpicos de Paris, estabelecendo um novo recorde mundial com o tempo de 14min48s85. O brasileiro superou a antiga marca, que também pertencia a um compatriota, Yeltsin Jacques, de 32 anos, que ficou com a medalha de bronze nesta edição, mesmo tendo melhorado seu próprio recorde anterior.
Um desempenho histórico
Agripino, que foi diagnosticado com ceratocone, uma doença degenerativa na córnea, aos 7 anos, liderou a prova do início ao fim. A vitória foi celebrada não apenas pela conquista, mas também pela superação de um obstáculo físico recente: uma torção no pé direito ocorrida durante os treinamentos na cidade francesa de Font-Romeu. “Furei o protocolo médico e falei: ‘A gente vai ganhar essa bagaça’”, revelou Agripino após a corrida.
O papel dos atletas-guia
A vitória de Agripino também foi fruto de uma forte parceria com seus atletas-guia, Edelson Almeida e Micael dos Santos, ambos corredores de fundo. “Eles são nossos olhos e também nos ajudam psicologicamente”, destacou o novo campeão paralímpico. A conexão entre eles foi fundamental para o resultado. “A gente sempre conversa que isso aqui é um casamento. Não é todo dia que é mil flores, mil maravilhas, a gente briga, mas dentro da pista a gente faz a diferença.”
A prova e a estratégia
A corrida foi intensa desde o início, com Agripino assumindo a liderança e sendo seguido de perto pelo japonês Kenya Karasawa, que acabou com a medalha de prata. “O Edelson falava: ‘O japonês vai passar, dá uma pancada.’ Aí dei uma pancada, já mexeu no psicológico do japonês. Aí ele falou de novo, ‘Júlio, o japonês está chegando de novo’, dei outra pancada e foi isso que aconteceu”, contou Agripino, detalhando a estratégia que garantiu sua vitória.
O bronze de Yeltsin Jacques
Yeltsin Jacques, que havia conquistado o ouro na mesma prova nos Jogos de Tóquio, atribuiu o desempenho abaixo das expectativas a uma microrruptura na panturrilha esquerda e a uma virose que contraiu um mês e meio antes da competição. Mesmo assim, ele conseguiu assegurar a medalha de bronze com o tempo de 14min52s61, superando seu próprio recorde mundial anterior, mas ficando atrás de Agripino e Karasawa. “Consegui reorganizar a casa e sair daqui com uma medalha, levar um pedacinho da Torre Eiffel para o Brasil”, disse Yeltsin, fazendo referência às medalhas de Paris, que contêm 18 gramas de ferro original do famoso monumento.
Reconhecimento entre compatriotas
Após a prova, Agripino fez questão de parabenizar Yeltsin Jacques por sua trajetória e conquistas no paradesporto. “É um cara que tem muita história dentro do paradesporto. Respeito demais ele, mas sabia que hoje era o meu dia e ninguém ia passar por cima da gente”, afirmou Agripino, demonstrando o espírito esportivo que marcou a competição.
Gabriel Araújo: Primeiro medalhista do Brasil em Paris
Antes da prova de Agripino, o Brasil já havia subido ao pódio com o nadador Gabriel Araújo. Ele conquistou o ouro nos 100 metros costas da categoria S2 (para nadadores com deficiência física severa), no primeiro dia de competições paralímpicas em Paris. Araújo, que havia ficado com a prata na mesma prova nos Jogos de Tóquio, comemorou a conquista que inaugurou o quadro de medalhas do Brasil na edição de Paris.
A força do paradesporto brasileiro
As conquistas de Júlio César Agripino, Yeltsin Jacques e Gabriel Araújo reforçam a potência do paradesporto brasileiro no cenário internacional. O país, que sempre teve uma forte presença nos Jogos Paralímpicos, continua a demonstrar sua capacidade de superar desafios e conquistar novos patamares, com atletas que inspiram pelo talento e pela resiliência.