Idosa faz de tudo para provar que está viva para voltar a receber benefício do INSS

Uma idosa de 84 anos, moradora de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, está há mais de um ano tentando provar ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que está viva. Em um vídeo publicado nas redes sociais, Juracy Abreu de Salles segura um cartaz com os dizeres: “Por favor!!!! Eu não estou morta!!! Eu estou viva INSS!!! Eu só quero receber, devolve meu pagamento.

D. Juracy conta que recebia o Benefício de Prestação Continuada (BPC/Loas), que equivale a um salário mínimo, há 19 anos, até que em fevereiro do ano passado foi fazer o saque e o dinheiro não estava no banco. Em contato com a central de atendimento telefônico 135 do INSS em março, a idosa foi informada que o pagamento havia sido suspenso por falta de recadastramento. O que ela contesta:

— Em março do ano passado estive no Centro de Referência e Assistência Social (Cras), além disso fiz a prova de vida no banco em janeiro. Por que cortaram meu pagamento? — questiona Juracy, que foi orientada apresentar documentos em um posto do INSS para que passassem por uma análise.

Ela então marcou o atendimento e no 25 de março de 2021 compareceu à Agência da Previdência Social (APS) Engenheiro Trindade, em Campo Grande. Como o posto estava fechado por conta da pandemia de coronavírus, ela colocou toda a documentação na caixa de exigências, conforme orientada pela atendente da central 135.

A entrega do envelope está, inclusive, registrada no Meu INSS. No entanto, na hora de dar seguimento ao processo, uma parte da documentação foi parar em outra unidade, na Olinda Elis, também em Campo Grande.

Em julho, a idosa recebeu a resposta do INSS de que não seria possível dar prosseguimento ao restabelecimento do BPC/Loas. Somente em novembro a família tomou conhecimento de que o benefício foi negado porque Juracy constava como falecida no INSS.

A notícia impactou a vida da idosa, que entrou em depressão e teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) há poucos dias.

— Ela passa os dias sentada olhando para nada, triste, sem vontade de viver. Nós temos ajudado com as contas da casa, com a alimentação, remédios, mas ela não se anima — conta a nora de D. Juracy, Ana Lúcia Santana, de 40 anos, que aparece no vídeo com a idosa.

Óbito não localizado

A família então começou uma verdadeira via crúcis para localizar o tal óbito. E não achou. Em contato novamente com o INSS, conseguiram a documentação da idosa e todos os dados do óbito que estavam no cadastro. Com exceção do nome de quem havia morrido, que era o de Juracy, todas as outras informações que constavam no INSS eram do seu falecido marido. Isso pode ter ocorrido porque na apresentação de documentos o atestado de óbito do marido, datado de 1998, foi anexado para comprovar que vivia sozinha.

Confusão localizada, como desfazer o mal-entendido? Foi marcada uma prova de vida presencial na APS de Engenheiro Trindade em fevereiro deste ano. A família levou a idosa em cadeira de rodas, ela tem dificuldade de locomoção, no dia marcado e fez a prova de vida. Mo entanto, até agora o cadastro de Juracy continua espalhado em três unidades: Engenheiro Trindade, Olinda Elis e Nilópolis.

Falta de pessoal

Um servidor, que pediu para não ser identificado, explicou que a sobrecarga de trabalho pode ter levado ao desmembramento da documentação que estava no envelope entregue na APS Engenheiro Trindade. Da mesma forma, o preenchimento do cadastro da idosa com dados do marido falecido podem ser resultado dessa sobrecarga.

— Não justifica, óbvio. Mas com essa divisão por tarefas (onde cada uma tem uma pontuação) acaba dificultando ainda mais o nosso trabalho. Antigamente, o segurado chegava no posto com a documentação e na hora avaliávamos tudo e, se fosse o caso, já saía com a certeza da aposentadoria ou com a relação de documentos que precisariam ser apresentados. No seu retorno, nós já sabíamos do que se tratava e dávamos continuidade. Agora é pelo Meu INSS, onde cada parte do processo cai na mão de uma pessoa diferente e de regiões diferentes, onde não se sabe a particularidade de cada local. Quem sai perdendo é a população que precisa do serviço do INSS — lamenta.

Resposta do INSS

Procurado, o INSS informou que o erro no cadastro será corrigido e que o processo da senhorinha será concentrado na unidade de manutenção de benefícios de Nilópolis. O órgão informou ainda que o BPC da idosa será restabelecido e que ela terá direito a atrasados.

O INSS não soube informar, no entanto, porque a documentação de um mesmo envelope foi desmembrada e foi parar em outro posto e porque os dados do marido falecido foram parar no cadastro como se fossem da viúva.

Do Extra