Estudo aponta que 97% da droga entra no país sem barreira na fronteira amazônica

Apenas 2% a 3% da cocaína produzida no Peru e na Colômbia e enviada ao Brasil é apreendida na chamada Rota do Solimões, na Amazônia, dominada hoje pelo Comando Vermelho (CV). A estimativa tem como base imagens de satélites que mapeiam áreas de cultivo da coca, já adaptadas ao clima úmido amazônico e não mais restritas às encostas dos Andes.

Segundo o pesquisador Cesar Mello, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e professor da UFPA, a dificuldade está em mensurar a produção exata, mas a desproporção entre volume produzido e drogas apreendidas é clara: “A produção gira em milhares de toneladas, enquanto as apreensões ficam em menos de uma centena”, afirma.

Na prática, a fronteira do Brasil com Peru e Colômbia é praticamente aberta. No Alto Solimões, região de 96 mil km² equivalente ao território de Portugal, não há postos de fiscalização, controle aduaneiro ou presença efetiva das Forças Armadas. Entre Tabatinga (Brasil) e Letícia (Colômbia), o trânsito é livre e a tríplice fronteira inclui ainda a ilha peruana de Santa Rosa, acessível de canoa sem qualquer abordagem oficial.

Grande parte da droga circula em pequenas embarcações que cortam o Solimões, rios e igarapés locais. No Rio Javari, com mais de 1.000 km de extensão na fronteira com o Peru, a travessia de margens é livre, e a segurança, de fato, é feita pela Polícia Militar do Amazonas, que dispõe de apenas 156 homens no batalhão de Tabatinga.

As Forças Armadas mantêm cerca de mil militares na região, mas sua atuação não inclui patrulhamento direto contra o narcotráfico. Como resumiu um policial ouvido pela reportagem, só agem se o crime “cair no colo”.