
O endividamento das famílias brasileiras atingiu níveis históricos em setembro. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 30,5% das famílias têm contas em atraso, o maior patamar desde o início da série histórica, em 2010.
Além disso, 13% das famílias admitem que não conseguirão pagar suas dívidas em atraso, indicando um aumento significativo da inadimplência no país. O levantamento aponta um cenário de crescente fragilidade financeira, que afeta todos os perfis de renda.
“Mesmo com o endividamento funcionando como um aquecedor das vendas no comércio, a crescente inadimplência evidencia que há uma frenagem desta dinâmica”, avaliou o economista-chefe da CNC, Fábio Bentes.
O especialista destaca que o aumento da inadimplência está relacionado à combinação de taxa de juros elevada e orçamento comprometido das famílias. “Isso não ocorria desde a recessão de 2015 e 2016, a pior da história econômica recente do Brasil. Apesar do crescimento do mercado de trabalho e da renda, a taxa de juros está em um patamar tão elevado que nem mesmo esse cenário positivo consegue absorver as prestações e financiamentos cada vez mais pesados”, explicou Bentes.
A pesquisa revela que o endividamento não escolhe gênero nem renda. Entre as famílias de renda mais baixa, com até três salários mínimos, o índice de endividados subiu de 81,1% em agosto para 82% em setembro. Entre os mais ricos, que recebem mais de dez salários mínimos por mês, a fatia de endividados passou de 68,7% para 69,5%.
Enquanto os homens lideram em número de endividados, as mulheres são maioria entre os que atrasam pagamentos. Quase metade das famílias endividadas possui contas em atraso há mais de 90 dias.
De acordo com a CNC, 79,2% das famílias possuem contas a vencer, o maior índice desde 2010. As dívidas incluem cartão de crédito, cheque especial, carnês, crédito consignado, empréstimos pessoais e prestações de veículos e imóveis.
A entidade projeta que até o fim de 2025 o endividamento aumente 3,3 pontos porcentuais, enquanto a inadimplência deve subir 1,7 ponto porcentual.