Depois de 20 anos de impunidade, Mensalão mantém clima tóxico de divisão e conflito

Dois decênios após vir à tona, o escândalo do Mensalão, revelado em 2005, virou símbolo da impunidade no Brasil. O caso, que envolveu a compra de apoio parlamentar com recursos públicos durante o governo Lula (PT), resultou na condenação de 24 dos 38 réus no Supremo Tribunal Federal. O julgamento, encerrado em março de 2014, foi um dos mais longos da história da Corte. Nenhum dos condenados segue preso hoje.

Em 2021, todos os réus já haviam deixado o regime fechado. A maioria teve penas extintas por indultos assinados pelos ex-presidentes Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), ou beneficiou-se de decisões posteriores do STF que anularam condenações.

Entre os principais nomes beneficiados estão José Dirceu, Roberto Jefferson, Delúbio Soares, João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto e Marcos Valério — este último condenado a 37 anos de prisão.

As peças centrais do esquema

José Dirceu – Condenado a quase 8 anos por corrupção ativa, progrediu rapidamente ao regime domiciliar. Voltou a ser preso na Lava Jato e condenado a mais de 30 anos, mas teve todas as penas anuladas pelo STF em 2024.

Roberto Jefferson – Preso em 2014, cumpriu pena reduzida por indulto. Depois, foi novamente detido por ataques à Polícia Federal e por liderar uma “milícia digital”, mas segue em prisão domiciliar.

Delúbio Soares – Tesoureiro do PT, foi condenado a 8 anos e 11 meses. Teve pena perdoada em 2016 por decreto presidencial. Posteriormente, foi alvo da Lava Jato, mas teve provas anuladas.

João Paulo Cunha – Condenado por corrupção, peculato e lavagem, foi libertado por indulto em 2016 após cumprir parte da pena.

José Genoino – Condenado a quase 7 anos, também teve a pena reduzida e depois extinta por prescrição, com base em parecer do MPF.

Valdemar Costa Neto – Pegou 7 anos e 10 meses. Mesmo preso, manteve a liderança de seu partido. Obteve indulto e teve a pena perdoada em 2016.

Marcos Valério – Apontado como operador do esquema, foi condenado a 37 anos, cumpriu seis em regime fechado e hoje está em prisão domiciliar, beneficiado por decisões judiciais.

Pedro Corrêa – Foi condenado no Mensalão e depois na Lava Jato. A condenação no segundo caso foi anulada. Não está mais preso.

Henrique Pizzolato – Fugiu do país com identidade falsa. Foi extraditado da Itália, cumpriu parte da pena e está solto.

Sílvio Pereira – Fez acordo e cumpriu pena alternativa com prestação de serviços comunitários.