Bolsonaro faz discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU

MUNDO – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participa, na manhã desta terça-feira (21), da 76ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York. Como tradição, caberá ao representante brasileiro o discurso de abertura, previsto para as 10h (horário de Brasília).

Bolsonaro chega ao evento pressionado pela comunidade internacional por não ter tomado a vacina contra a Covid-19 – situação que provocou constrangimento à delegação brasileira nos últimos dias, como para circular por determinados locais de Nova York. Sem poder entrar em restaurantes, que exigem comprovante de vacinação, ele precisou comer pizza numa calçada no domingo ao lado de ministros.

O prefeito da cidade, Bill de Blasio, chegou a dizer que o presidente brasileiro não deveria incomodar se não quer ser vacinado. “Precisamos mandar uma mensagem a todos os líderes mundiais, incluindo mais notavelmente Bolsonaro, do Brasil, que se você pretende vir aqui, precisa estar vacinado. Se não quiser ser vacinado, não incomode vindo, porque todo mundo deveria estar junto”, disse.

Na última terça-feira (20), Bolsonaro participou de reunião bilateral com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, de quem ouviu uma defesa enfática do imunizante produzido pela farmacêutica britânica AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford. O presidente brasileiro é o único líder do G-20 que está presente em Nova York para o fórum da ONU e declarou publicamente não ter se vacinado.

Para a abertura da 76ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, analistas esperam que Bolsonaro tente equilibrar um discurso voltado à sua base eleitoral com tentativas de melhorar a imagem do Brasil no plano internacional, sobretudo no enfrentamento à pandemia de Covid-19 e na preservação do meio ambiente.

Do ponto de vista geopolítico, espera-se uma postura mais amena em relação ao multilateralismo em meio à nova distribuição de peças na cena política internacional, além de um esforço por maior aproximação em relação ao governo dos Estados Unidos. O evento marcará o primeiro discurso do presidente Joe Biden na ONU.

Bolsonaro também deve anunciar um projeto de doação de vacinas contra o novo coronavírus a países mais pobres da América Latina e do Caribe – o que, além de um gesto internacional no sentido da cooperação, pode contribuir para a narrativa de que o país tem avançado rapidamente na imunização da população.

Há dúvidas sobre como o presidente deverá simultaneamente fazer acenos a uma postura de maior responsabilidade ambiental e defender bandeiras de sua base mais radical, com esperadas críticas ao marco temporal para a demarcação de terras indígenas.

De um lado, a chamada ala ideológica cobra por um tom mais enfático no pronunciamento. Do outro, o grupo dos pragmáticos pedem um tom de moderação e acenos à comunidade internacional. A fala de Bolsonaro deverá consolidar sugestões enviadas pelo Itamaraty, pela missão do Brasil na ONU e por integrantes do Palácio do Planalto.