Após morte de paciente tratada com com nebulização de hidroxicloroquina, médica diz que foi ‘último recurso disponível’

A médica Michelle Chechter, que submeteu pacientes grávidas com Covid-19 a tratamento de nebulização de hidroxicloroquina, em Manaus, informou que o procedimento adotado foi “utilizado como medida compassiva e último recurso disponível”.

Por meio de seu advogado de defesa, ela emitiu uma nota de esclarecimento sobre o caso neste domingo (18). Ela submeteu duas pacientes ao tratamento, mas uma delas morreu.

O tratamento de pacientes com nebulização de hidroxicloroquina é considerada ineficaz pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A Secretaria de Saúde do Amazonas informou que o procedimento está fora do padrão adotado no tratamento da doença, e abriu uma sindicância para apurar o caso.

Nebulização de hidroxicloroquina em pacientes do Amazonas: o que se sabe até agora

O procedimento foi feito pela médica, que chegou de São Paulo, e foi integrada em regime temporário pelo Governo do Amazonas, via banco de recursos disponibilizados pelo Ministério da Saúde.

Na nota encaminhada, além de dizer que o tratamento foi praticado como medida compassiva e como último recurso, o advogado de defesa da médica, Leonardo Magalhães, também informou que o procedimento feito por ela teve o consentimento da paciente e familiares.

“Em razão do estágio avançado da doença, o tratamento adotado foi utilizado como medida compassiva e último recurso disponível, tendo o consentimento expresso da paciente e a anuência de seus familiares”, informou o advogado da médica.

 

 Entenda o caso

Uma mulher com Covid-19 internada em uma maternidade em Manaus, no Amazonas, recebeu tratamento experimental com nebulização de hidroxicloroquina em meados de fevereiro, dias após passar por um parto de emergência, e morreu no dia 2 de março.

O medicamento é ineficaz contra a Covid-19 e segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) não deve ser usado para tratar pacientes com a doença.

A ginecologista e obstetra paulistana Michelle Chechter, responsável pela nebulização, filmou o momento em que Jucicleia de Sousa Lira, de 33 anos, passou pela sessão no hospital público estadual Instituto da Mulher Dona Lindu (IMDL). O vídeo teve grande alcance nas redes sociais. Jucicleia morreu 27 dias após o nascimento do filho e o hospital informou à família que a causa foi infecção generalizada em decorrência da Covid-19, de acordo com a Folha.

Ainda segundo o jornal, Jucicleia assinou uma autorização para o procedimento, com três parágrafos curtos com erros gramaticais e de grafia, do qual seu marido não sabia da existência. Outra paciente, também puérpera, assinou a autorização para uso de nebulização e sobreviveu, mas só recebeu alta quase dois meses após o procedimento.

Segundo relatos obtidos pela Folha, pelo menos outras três pacientes receberam a nebulização mesmo sem terem autorizado e todas morreram.

A Secretaria de Saúde do Estado disse que a médica passou a fazer parte da equipe em 3 de fevereiro “após contratação em regime temporário pela secretaria junto com outros 2,3 mil profissionais de saúde, via banco de recursos humanos disponibilizados ao Estado pelo Ministério da Saúde”.