Indígenas tomam Esplanada dos Ministérios em ato por demarcação, saúde e educação no Acampamento Terra Livre

Usando adereços tradicionais e pinturas corporais típicas, indígenas de diversas regiões do país marcharam nesta terça-feira (8) em Brasília, como parte da 21ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL). O trajeto de cerca de 4 quilômetros, entre o antigo Complexo Funarte e a Esplanada dos Ministérios, foi marcado por cânticos, palavras de ordem e cartazes que cobravam do poder público o respeito aos direitos dos povos originários.

“Estamos aqui para lutar pelos nossos direitos. Não queremos nada de graça. Se nós não brigarmos, ninguém vai fazer isso por nós”, afirmou Netuno Borum, que veio de São Paulo com mais de 360 indígenas da Região Sudeste, mobilizados pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

Ao lado dos filhos, Potyra e Kretã, Netuno destacou a importância da luta para as novas gerações: “Eles sempre nos acompanham nas manifestações. Não sei o que vai mudar, mas lutamos para que as crianças de hoje tenham um futuro com mais dignidade.”

Kayla Pataxó Hã-Hã-Hãe, que participa do ATL pela quinta vez, compartilhou sentimento semelhante:

“Carrego meu filho para que ele saiba valorizar essa luta. É cansativo, mas necessário. Nossa esperança é que eles não sofram o que nós sofremos.”

Entre as principais pautas levantadas durante a marcha estavam a demarcação de terras, a defesa da Constituição e o fortalecimento da saúde e educação indígena. Cartazes exibiam mensagens como: “Demarcação Já!”, “Nosso futuro não está à venda” e “Terras demarcadas são garantia de vida”.

Vanildo Ariabô Quezo, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) de Cuiabá, destacou os desafios da saúde indígena e a necessidade de maior investimento público:

“Faltam viaturas, profissionais e estrutura. Recentemente conseguimos a nomeação de um coordenador indígena para o Distrito Sanitário Especial Indígena, o que já foi uma vitória importante.”

A marcha contou ainda com apoio de entidades da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil – seccional Distrito Federal (OAB-DF), que enviou 23 representantes para acompanhar a manifestação.

“Estamos aqui para garantir que os direitos constitucionais dos povos indígenas sejam respeitados. Monitoramos o acampamento e a marcha para prevenir qualquer tipo de conflito ou abuso”, explicou a advogada Erica Ferrer, da Comissão dos Povos Indígenas da OAB-DF.